terça-feira, 4 de março de 2008

Na Terrinha

Ufa, não consegui superar Essen. Levei menos de dois meses para publicar! É difícil trabalhar sem um relógio atrás de mim, ou um patrão cobrando o texto, ou um fechamento insano nas minhas costas...

Lá vai.

São tantos os possíveis “lides” que fica difícil começar o post-matéria-impressões sobre o LeiriaCon 2008. Ok, beeem atrasada, eu sei. Mas estou melhorando, se compararmos com Essen :-). Bom, começo então com a explicação básica sobre o termo. Para quem não está familiarizado, lide – para os brasileiros pelo menos – ou lead – é simplesmente o primeiro parágrafo de uma matéria. Ou seja, onde o jornalista explica quem fez o quê, quando, onde, como e por quê.

Mas voltando…

Poderia começar escrevendo maravilhas sobre o caloroso acolhimento dos portugueses; ou pela mesa farta e repleta de iguarias deliciosas que só se come em Portugal; pelo Mac Gerdts e a sua relação obsessiva com galão pós-refeições!; mas também poderia citar alguns dos mais de 200 jogos que passaram pelas mesas dos salões do Instituto Português da Juventude, no sábado, dia 26 de janeiro, e que reuniu cerca de 90 pessoas com um único propósito: jogar!
O dia, friozinho, foi perfeito para a jogatana que começou às 10h terminou pouco depois de meia-noite.

Pois é, LeiriaCon nos proporcionou diversão 24 horas por dia (não, dormi. Mas, sim, sonhava com os jogos e com as comidas!) e ótimas descobertas: jogos diferentes dos habituais, pessoas adoráveis, gastronomia de excelente qualidade e farta (isso nós herdamos!) e um país que se encaixa feito luva no mapa do estado do Rio de Janeiro, mas com uma diversidade e uma beleza ímpares.

Quando Paulo ligou nos convidou para irmos à LeiriaCon, eu e Tânia aceitamos imediatamente. Fizemos as contas e deu para encaixar dois dias em Lisboa antes das obrigações com os jogos. Na capital, encontramos com a dupla do jogos de tabuleiro, Hugo e Zorg. Ou seja, começamos com chave de ouro. Lá, os dois nos apresentaram ao La Città, um city building bem simpático. Ok, uma versão do La Città, já que jogamos com uma regra errada. Regra essa beem importante. Até aí nada de novo pr’a gente que está muito acostumada a jogar com regras erradas. Mas, no fim, foi ótimo, divertido e um bom aquecimento para o sábado seguinte. Quem ganhou? Tânia, a lendária brasileira que destrona (quase) qualquer um no tabuleiro – mas que não estava nos seus melhores dias em Leiria (distraiu-se com truques dos adversários tugas ao fazê-la comer toneladas de comida e depois passear).

Pedro-Zorg e Hugo: mais uma vez uma noite divertida com direito aos Js favoritos: jantar e jogo.


No dia seguinte, nos encontramos com Soledade
no aeroporto que esperava ansiosamente o game designer Mac Gerdts, figura (e uma figura) ilustre dos jogos de tabuleiro e idealizador de um dos jogos mais queridos da turma do Spiel Portugal, o Imperial. Ele chegou todo carregado com malas e uma grande “pasta” de papelão.

A viagem começou tensa, afinal tínhamos uma celebridade no carro e deveríamos falar em inglês todo o tempo. Mas o Mac logo se mostrou “gente como a gente”, deixando a viagem de 150 quilômetros até Leiria tranqüila e agradável. Ao longo do caminho foi falando um pouco de como cria os jogos e deu uma declaração bombástica que eu, infelizmente não apurei detalhadamente: “não jogo muito”. Uau! Bom, até aí tudo bem. Para alguns eu não jogo muito! Mas para um gamedesigner, não jogar muito pode ser complicado, não? Como inventar sistemas se você não conhece muitos deles. Mas, enfim, são especulações. Afinal, o que é jogar pouco, não é mesmo?

Continuando...
Mac deu outras informações curiosas quando comentava como fazia os jogos e tal. O que ficou na minha cabeça foi o tempo de maturação de suas criações. O Imperial, por exemplo, foi elaborado ainda nos anos 80(!!!) e só foi lançado em 2006. Hamburgum também foi maturado por muitos anos, nos anos 90, para ser lançado no ano passado.

Bom, já em Leiria, depositamos o homem no hotel e fomos nos arrumar para o jantar. As fotos - DAS ENTRADAS - mostram como foi o jantarzinho. Depois de todos para lá de satisfeitos, Soledade pergunta quem quer café. Alguns aceitam outros recusam. Mac pede um galáo. “Você quer dizer um pingado: café com um pouco de leite, certo, Mac?”, pergunta Soledade. “Não, eu quero um galáo!”, diz Mac. “Mas o galão é um copo grande de leite com café… É isso mesmo? Tem certeza?” “Isso. Eu quero um galáo”, disse enfático, para não haver dúvidas, como um don Lázaro pedindo por meláo, pós-derrame. A mesa, em choque, arregalou os olhos vendo o homem tomar avidamente o copo.

Couvert: nossa primeira orgia gastronômica em Leiria. A primeira de muitas. Mac está entre Soledade e Luís. Do meu lado, ali no cantinho direito, está o Nuno. De laranja, o Costa. Não dá pra ver o Carlos, mas, acreditem, ele está do lado do Nuno.
Mas as moças são as verdadeiras jogadoras. Elas entraram em contato com o Mac, levaram o homem pra Leiria e organizaram a estadia dele. E, para anunciar aos respectivos, ainda bolaram um joguinho que, no fim, eles descobririam que o Mac estava a caminho de LeiriaCon. São muito mais jogadoras do que qualquer um do Oba! Mas, depois disso tudo, dizem que não gostam muito de jogar. É mole?!

Incrível.

E, assim, depois de TODAS as refeições, Mac Gerdts tomava o seu galáozinho. Claro que virou a piada da temporada.


Mas, desde o aeroporto, Soledade não tirava da cabeça o que tinha visto. Quando Mac saiu daquela porta automática que separa viajantes dos mortais que simplesmente esperam Paulo mirou os olhos direto na grande pasta de papelão. O que será que tem ali, nos perguntamos? E perguntamos ao Mac, claro. “Não conto”, disse ele. Mistério que só foi desvendado no dia seguinte, quando fomos juntos para o grande evento.



Estávamos exaustas, mas, quando chegamos na casa do Paulo ainda deu tempo para jogarmos. Éramos seis e tivemos a oportunidade de conhecer o Liberté, outro joguinho adorado pelo grupo de Leiria. Realmente, o jogo é muito bom. E, realmente, as cores confundem demais. E, mesmo com seis jogadores, deu para sentir que Martin Wallace estava inspirado quando pensou na Revolução Francesa para fazer sua obra-prima. Quem ganhou? Tânia. Mesmo morta de sono.



No dia seguinte, começava a jogatina. E, assim que chegamos, Mac queria falar com todos. Em inglês?, perguntou. Sim, em inglês. A maioria sabe falar (um francês ficaria chocado com essa informação).

Agradeceu o convite, claro, avisou que estava com o protótipo do Imperial, que dura em média 8 horas(!), apresentou um protótipo de um novo jogo – novo nem tanto, o cara começou a desenvolver a idéia ainda em meados dos anos 90! e, sim, trouxe um presente. Um mimo. O gamedesigner alemão fez uma expansão para seu último jogo, Hamburgum, com um belo tabuleiro de Lisboa (muito mais bonito que o original!) e fez uma ou outra modificação nas regras. Na mesma noite, eu Tânia, Costa, Nuno e Soledade jogamos e adoramos! Quem ganhou? Não, não foi a Tânia. Foi o Costa.

O momento da entrega do presente. Surpresa geral.


O Hamburgum versão Lisboa


Protótipo do novo jogo de Mac: ele pensa em publicar em breve.


Depois dos anúncios de Mac, ele jogou com mais alguns – inclusive o Paulo – seu novo jogo. “muito bom, muito giro, mas um pouco longo”, comentou Paulo depois da partida que levou umas 3 horas. Enquanto isso, eu, Nuno, Tânia e Luís nos arriscávamos no difícil mundo de Brass, outro joguinho bastante popular entre o povo do Spiel Portugal. A partida foi um tanto quanto caótica – com pelo menos duas grandes interrupções, uma delas pra comer, claro!!!!

Brass: jogo é bom, mas a partida, infelizmente, foi confusa. Quero jogar de novo.


Ora, pois, esqueci-me de mencionar o Rome. Bom, mas o joguinho não causou boas impressões. Tânia acabou com a partida em menos de 10 minutos. Bah.

OBS:
A diferença básica do LeiriaCon para a Festa do Peão de Tabuleiro (sorry, no link, eles estão em manutenção) – em São Paulo – é que na reunião portuguesa a comida ficou longe. Éramos 60 pessoas pegando carros e se deslocando para um restaurante – ótimo por sinal – que fez um bufê com preço fixo (baratinho) especial para os jogadores. Nessa, perdemos pouco mais de uma hora.

Na volta, ainda paramos o Brass para jogarmos Wings of War, joguinho criado pelo italiano Andrea Angiolino. A batalha entre aliados e nazistas rendeu o recorde mundial de jogadores. Éramos, ao todo 47. Eu, em poucas rodadas, caí da mesa e a Tânia não durou muito mais. Resultado: massacre das tropas de Hitler. Ai, tadinho. Nessa horas penso no Santos Dumont.
Depois, conseguimos terminar o Brass! Quem ganhou? Nuno, claro, não explicou bem o suficiente só pra Tânia não ganhar. Heheheh.







Depois do Brass, fomos para a mesa do Imperial! Nossa primeira experiência com o jogo que achávamos ser bélico da cabeça aos pés e muito longo. É, tínhamos muito preconceito. Mas estávamos lá justamente para tirar a prova. E o próprio Mac Gerdts juntou-se ao grupo. Éramos, então, seis. Início tenso, com o astro na mesa, aos poucos, bem aos poucos, os jogadores foram relaxando. Quer dizer, alguns. Mas, enfim, a partida foi emocionante. Quem ganhou? Mac Gerdts, claro, ou vocês achavam que a Tânia ia fazer essa desfeita (ela ficou em segundo, na cola do homem).


Depois da experiência, aquilo que pensávamos sobre o joguinho foi às favas. É realmente muito bom e não necessariamente bélico todo o tempo. Exige timming do jogador para saber quando "dominar um país", quando atacar, quando comprar ações e quando ganhar dinheiro. Muito bom, muito bom. Ah, claro, durante a partida paramos rapidinho pra comer uma pizza.

Já era tarde e resolvemos jogar algo rápido. Fomos para o Coloretto, com direito a Ana, mulher do Paulo e o próprio Paulo, que jogou algumas partidas até que o Mac pediu para levá-lo pro hotel. Jogamos algumas partidas até irmos para o Mr. Jack. Um ótimo momento para tirar a má impressão que ele causou durante Essen. Ana nos lembrou as regras e Tânia e eu começamos a jogar. Realmente ele melhorou e muito. Jogamos duas vezes. Nossa, muito, muito bom. Emocionante. É importante saber montar uma estratégia logo de cara, ou o jogo fica sem graça logo nos primeiros rounds. Mas ele merece um post só pra ele.

Exaustos fomos todos para a casa do Paulo. Terminamos a noite com a versão lisboeta de Hamburgum. Fechamos com chave de ouro. Ótimo jogo, bem mais simples do que Imperial, mas nem por isso menos complexo. Quem ganhou? Já disse, o Costa. O lanterninha deu uma bela virada no jogo no final.



O day after jogatina foi para relaxar. Passeamos por Leiria, conhecemos alguns belos e simpáticos cantinhos da cidade e depois pegamos o carro para conhecermos o entorno. Eu já conhecia Batalha e Alcobaça, mas não conhecia Nazaré, uma cidade do litoral português bem simptática, com o Oceano Atlântico banhando a praia de areia (!) grossa. Fomos lá para Mac ver o mar. Seguem algumas fotos impagáveis do homem na praia.


Mac vendo o mar pela primeira vez. Ou quase.

Não lembra aqueles filmes com os enamorados correndo pela praia?

De lá, a última – achávamos pelo menos – comilança da viagem. A bela Quinta dos Pinheiros nos acolheu super bem com direito a infinitos pratos: panqueca de camarão, pato com frutas silvestres, cabrito, vieiras à milanesa, cabrito com batatas e, claro, sobremesa. No fim, pedi um digestivo. Não agüentei.


O cabrito


Lá vem o pato: incrível de bom.


Na segunda, Paulo ainda teve forças – e a delicadeza – de nos levar até o aeroporto de Lisboa. Nunca vamos esquecer a viagem, a gentileza, o senso de humor (sentimos falta disso aqui em Paris) muito parecido com o nosso. E os jogos, claro!

PS: uma versão mais reduzida estará disponível no Spiel Portugal!






Fotos em nas "capelas imperfeitas", ou, na tradução para o inglês, "capelas inacabadas", em Batalha. A pesar de o Paulo dizer o contrário, prefiro a tradução pro inglês. Elas são lindas e perfeitas como estão, inacabadas.

9 comentários:

missbutcher disse...

Sorry, não reli. Depois da aula vejo se o post está direitinho.
Beijos

Chirol disse...

JOGATANA BEL? REALMENTE ESTÁS UMA TUGUINHA! :)

mas como sempre seu texto é muito bom! Deste lado do Atlântico fica apenas muita saudade e uma pitada de inveja pelo evento memorável que eu não fui!

muitos beijos!

Stein disse...

Bel, realmente, vc tem um dom. Fico curioso para ler algum outro tipo de texto, porque esse jornalístico-descritivo vc faz com uma maestria ímpar.

Quantos jogos, vamos ver se aqui em Sampa a gente parte para um fds recheado de jogos...

abs

sTein

missbutcher disse...

Meninos, obrigada. Assim eu acabo acreditando. :-)
Stein, bom fim de semana cheio de jogos e, se possível, jogue imperial por mim. porque, por aqui, tão cedo jogarei.
Beijos

missbutcher disse...

Recomendo muito vocês darem uma olhada no post do SpielPortugal. O texto é o mesmo, com alguns cortes, mas as fotos são diferentes. E lá está o Mac tomando o seu galáo.

Flotsi disse...

Excelente !

Estive no LeiriaCon e só agora apanhei o que lá se passou de realmente interessante.

Parabéns e voltem sempre !

Dimitri BR disse...

estou sem palavras.

claro, a IsaBel usou-as todas! :-]

...

apenas me resta, pois, deixar minhas felicitações aos organizadores e participantes do evento, que com certeza foi excelente! é pena que não pudesse juntar-me a vocês. :~]

abraços paratodos

beijos para Bel e Tânia, com muito humor - perdão! - amor. :P

Carlos Abrunhosa disse...

Olá

eu chamo-me Carlos (Abruk), também estive em Leiria e recordo-me de uma de vocês... só não sei o nome!

Parabéns pelo artigo está espectacular!

Hoje realiza-se o TrincaCon, em Abrantes, será que alguma de vós irá? Eu não vou mas estarão lá os meus amigos de Aveiro.

A propósito. Gostei muito do vosso blog e vou adicioná-lo aos links do nosso blog (jogoeu.blogspot.com), espero que me permitam! ;)

Fiquem bem e podem contar com um leitor assíduo daqui para a frente!

Anônimo disse...

Oi, conhecemo-nos no LeiriaCon muito fugazmente. Os meus parabéns pelo "report". Espero encontrá-las em Essen (eheheh).
Na altura vim dar uma espreitada ao Blog, mas só hoje mesmo é que vi o report do evento.

Boas jogatanas e até breve (espero)!