domingo, 9 de julho de 2006

Tema versus mecânica!

(Dimitri, vou deixar a imagem do post por sua conta, e espero que você não tenha se ofendido pelo Clown)

Este divertido dilema "jogacional" da nossa querida amiga Isabel, que levou até a uma versão do "big brother dos jogos de tabuleiro" (Sugiro que o Faidutti faça o papel do Bial), inevitavelmente me lembrou de uma clássica discussão apontada pelo já referido game designer francês: tema X mecânica. O rei dos jogos de cartas semi-caóticos aponta para uma escola de origem americana (mais ligada ao tema, com jogos longos e etc.) e outra alemã (mais ligada aos mecanismos e com temas muito pouco relevantes, como por exemplo o Ra, que é sobre o Egito dos faraós e depois foi reeditado como Razzia, sobre mafiosos).

Não vou entrar na discussão sobre o que é mais importante (como diria um sábio: uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa, então depende), mas sim o que você está querendo Bel (e os companheiros cariocas). Como o Dimitri já disse, temos muitos jogos de leilões (Industria, razzia, parte do Amun-Re e etc.), de política (Quo vadis e Diplomacia), de gerenciamento de recursos e construção (Caylus, Puerto Rico), de comércio e negociação (Catan e Saint Petersburgo), só para ficar nos jogos aqui da galera carioca (que são bem menos numerosos que os de SP). E temos uma variedade enorme de temas também, como os jogos fantástico/medievais (Chevaliers, Citadels, Caylus e etc.), de civilizações mediterrânes (Amun-re e Tigris e Euphrates), de colonização (Catan e Puerto Rico), de comércio no Himalaia e etc.

Logo a pergunta é o que seria interessante de novo para nós? Temas novos, como algo Sci-Fi? Ou um joguinho sobre o velho oeste? Essas são duas temáticas nas quais não temos nenhum jogo, mas particularmente acho bem sem graça. Um exemplo de tema que complementa bem o jogo é o Guillotine, onde o fato de sermos carrascos na revolução francesa é boa parte da graça. O Princes of Florence (sua prioridade, né Bel?) é ambientado na renascença, o que pode ser bem interessante. Isso me lembra que outro dia li um post no BGG em que um moleque pedia algum jogo igual ao Puerto Rico, porém com outra ambientação, porque ele odiava plantar e gerenciar San juan, mas gostava da mecânica.

Ou será que a grande questão é a mecânica? Um novo esquema de combate (exemplo ruim, já que não somos muito fãs de wargames), de seleção de papéis ou coisa que valha. Como já temos vários jogos com mecânicas bem diferentes, talvez seja a hora de novas temáticas (ou não, como diria Caetano). Acho que o "peso" do jogo também é secundário, já que temos jogos de vários tipos e para vários gostos, desde de Pit até Puerto Rico. O lance é que teremos mais opções "pesadas" ou "mais leves".

Enfim Bel, pense, pesquise nas lojas e internet, e depois enfie o pé-na-jaca!! É sempre legal quando chegam os joguinhos novos.

Abraços

PS: Manti, você vai querer um "blind test" dos seus jogos quando vier ao Rio? Eu me disponho...

7 comentários:

missbutcher disse...

Muito bom você ter aprofundado esse ponto, Chirol. Realmente a questão mecânica x temática é complicada. Eu fico muito na fissura da temática. Historinha, ambientação, contexto são os itens que mais me atraem. Quer dizer, atraíam até eu conhecer Citadels, o divisor de águas da minha vida de jogadora-de-tabuleiro. A partir dele, comecei a prestar mais atenção na mecânica dos jogos e como elas poderiam ser tão diferentes (claro que a ambientação do Citadels é bastante compatível com o jogo!).
Eu passei a amar jogos de personagens, talvez por gostar de RPGs.
O fato é que a ambientação, como bem já disseo Chirol, não é o forte do povo alemão e agregados. Mas, definitivamente, não compromete com a qualidade dos games! Por isso, é tão difícil escolher... ai, ai...

Hugo Carvalho disse...

Eu neste particular gosto de quase tudo. Motiva-me imenso um jogo com leilões que obrigue o pessoal a falar uns com os outros, licitando e interagindo, aumentando deste as doses de divertimento. Um jogo de tabuleiro para mim tem de ter uma componente de sociabilidade bastante elevada para me atrair. Por isso é que não gosto de jogar jogos para dois ou três jogadores. Perde-se facilmente o factor divertimento reinando o silêncio e a concentração .
Os jogos que envolvam leilões são quase sempre uma aposta ganha. Como o Goa ou o monumental e intocável Princes of Renaissance que para além duma mecânica interessante traz consigo uma onda histórica em que durante uma hora e meia nos sentimos verdadeiros príncipes do renascimento. Por isso é que gosto tanto do Martin Wallace porque é o mestre a alinhar no mesmo campo uma mecânica motivante e uma componente histórica verdadeiramente sedutora. Struugle of Empires é outro destes exemplos. Os jogadores falam, decidem alianças, fazem acordos, ao mesmo tempo que se sentem os homens mais importantes da Europa oitocentista.
Mas por vezes mecânicas não muito atraentes podem criar um jogo extraordinariamente motivante. Lembro-me do Formula Dé, onde toda a encenação transforma um jogo de sorte e azar numa autentica corrida onde os jogadores sentem a velocidade e o gosto pela vitória.

Rafael Mantovani disse...

ei, galera

eu não acho que precise ser um versus o outro, a mecânica e o tema são dois aspectos vitais e em planos diferentes do negócio, é que nem a semântica e a sintaxe, não tem muito como comparar um com o outro. MAS, isso que eu digo é apenas em tese, porque na prática de fato há jogos que claramente só são legais porque têm um tema divertido, e outros em que a mecânica dá tanta conta que nem é necessário ter tema e o jogo pode ser abstrato (na verdade, mesmo o jogo abstrato tem tema, é um tema abstrato ("expansão num território", etc. sei lá). Então digamos que é como se pudesse haver uma "atrofia/hipertrofia" de um ou de outro "eixo".
Mas outro dia eu e o dimitri estávamos pensando uma coisa, que na real qualquer jogo poderia ser "destematizado" e jogado só com sua estrutura "fria", seu esqueleto de mecânica, porém isso geraria dois problemas enormes:
- o jogo (a maioria deles) ia ficar muito CHATO, isso é óbvio.
- o jogo ia ficar MAIS COMPLICADO! Isso porque o tema também serve para "compactar" as regras. Um personagem do tema, um poder, uma habilidade especial, uma ação definida nas regras, tudo isso, tudo isso serve para abrigar esquemas da mecânica.
Dando um exemplo: imaginem se, no citadels, a hora das ações fosse assim:

"Vamos lá, quem é o 1?"
"Eu sou o 1. Eu escolho impedir que o 4 jogue neste turno. Eu escolho receber 2 possíveis pontos. Eu gero 4 pontos baixando na mesa esta carta que custa/vale 4."
"Muito bem, agora eu chamo o 2!"
"Sou eu. Eu escolho receber todos os possíveis pontos que houver no 'pool' do 6 no início da jogada dele. Etc. etc.
"Ótimo, ninguém é o 3, o 4 foi impedido de jogar pelo 1, agora é a vez do 5"
"Eu sou o 5! etc. etc. etc."

OU seja, o jogo ficaria bem mais complicado porque a mecânica "crua" tem formulações muito extensas, o tema tem o poder de resumir esquemas e estrutras da mecânica, incluir esses esquemas em definições que os jogadores podem memorizar e manusear mais facilmente, porque têm uma "cara". Por exemplo, é muito mais simples lembrar "o assassino mata alguém" do que lembrar "o jogador 1 impede que algum jogador jogue", é muito mais simples lembrar "um colono na plantação e um no processamento produzem um açúcar", do que lembrar "um marcador no tile de tipo x e um outro no tile de tipo y permitem que o jogador obtenha um marcador que pode ser trocado por pontos ou valor corrente etc." Aliás, por falar em PR, eu também já tinha pensado aquilo que o moleque escreveu no BGG (apud Chirol), que no fundo o tema colonialista do jogo é meio broxante, eu por muito tempo não joguei esse jogo porque achava ele pouco atraente, nunca me dava muita vontade (agora eu acostumei e entro na onda), vamos criar um puerto rico espacial? ou puerto rico no mundo dos elfos?

bjos
manti

Rafael Mantovani disse...

ah, sim, e chirol, eu vou querer vários tipos de testes quando chegar aí, inclusive alguns que envolvem fios conectados ao seu cérebro, se prepare. (estou zoando mas é sério mesmo que haverá tests, depois eu falo sobre isso aqui).

e chirol também, queria saber se ainda está de pé a oferta para que eu me hospede na sua casa! eu não dou trabalho, não tenho muitos hábitos estranhos e juro não fumar perto das crianças. pode ser ainda? eu estava pensando em ir na terça e ficar até o sábado, mais ou menos. e eu posso dormir em outras casas de vez em quando para aliviar, não sei como anda a quandidade de energia que vcs têm devotado às crianças etc., enfim, diga aí

bjo de novo
manti

soledade disse...

ois
um comentário do outro lado do Atlântico (talvez um pouco atrasado)
Faltou aí no post um tipo de jogo (mecânica) que me agrada particularmente - o area control game. O exemplo típico deste tipo de jogo será o El Grande.
Em relação aos temas dos jogos, o facto é que (na minha opinião) na maioria das vezes, o tema não está presente. Ou seja, o RA, por exemplo, é um jogo sobre o antigo Egipto mas, quando estamos a jogar, podia muito bem ser sobre outra coisa qualquer tipo Mafia.
De facto, e como disse o meu compatriota tuga (Hugo), os jogos que melhor aliam tema e mecânica serão os jogos do Martin Wallace. Pelo menos ele fá-lo muito bem quer no Princes of Renaissance quer, especialmente, no Liberté, que é também um area control game.
abraço,
Paulo

missbutcher disse...

Paulo, fuxicando o BGG já me deparei com alguns dos jogos criados por Martin Wallace. Mas, infelizmente, nunca joguei. O seu post me animou ainda mais em conhecer as criações do gajo.
Bj
Bel

soledade disse...

Bel, "o gajo" é fantástico :). Conheço quatro jogos dele (três e meio porque um deles é um "filler" - La Strada) e acho todos deliciosos. Todos eles confusos, alguns mesmo caóticos, mas todos deliciosos. A interacção entre os jogadores é sempre uma componente muito significativa. Tudo parece meio "bagunçado" mas depois, no final, até resulta. Faz lembrar o Pulp Fiction.
Agora, deixando de lado esta dicotomia mecânica/tema, que até é bem mais confusa que os jogos de M. Wallace, o meu conselho pessoal para quem não conhece "o gajo": comprem. É obrigatório.

Nota: eu juro que ele não me dá comissão sobre as vendas.

Abraço

Paulo